sábado, 7 de março de 2009

RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS

A Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas publicou, em seu informativo, entrevista realizada com a pesquisadora Cicília Peruzzo, onde se discute o conceito de Relações Públicas Comunitárias. Confira abaixo a íntegra da conversa.

ABRAPCORP
Informativo nº 02 Ano 02
www.abrapcorp.org.br

A professora Cicilia Maria Krohling Peruzzo formou-se em Relações Públicas pela Faculdade de Comunicação Social Anhembi. Foi docente da Universidade Federal do Espírito Santo e, atualmente, leciona e pesquisa na Universidade Metodista de São Paulo, onde coordena o Núcleo de Pesquisa de Comunicação Comunitária e Local (COMUNI). Sua dissertação de Mestrado, cursado na UMESP, deu origem ao livro Relações Públicas no modo de produção capitalista , publicado na década de 1980. Seu trabalho no Doutorado, cursado na USP, foi publicado na década de 1990 com o título Comunicação nos movimentos populares: a participação da construção da cidadania . Ambos os livros, bem como todo um conjunto de artigos e capítulos publicados, fizeram da pesquisadora uma importante referência para as relações públicas - principalmente no que se refere às relações públicas comunitárias e no Terceiro Setor. Mas também nos campos da comunicação comunitária e popular, e da comunicação para a cidadania. Como membro da Abrapcorp, tem participação destacada no GT "Relações Públicas Comunitárias, comunicação no Terceiro Setor e responsabilidade social". Além de uma intensa produção, que inclui a organização de dez coletâneas, de vários capítulos de livros e de inúmeros artigos em periódicos, publicou, em 2007, o livro "Televisão comunitária: dimensão pública e participação cidadã na mídia local", resultado de suas mais recentes pesquisas. Nesta entrevista, Cicilia Peruzzo fala brevemente sobre sua trajetória e sobre o seu campo de estudos.

Como começou seu interesse pelas RP nos movimentos populares?

Começou com a elaboração de minha dissertação de Mestrado denominada Relações Públicas no modo de produção capitalista . Ao terminar a pesquisa, tentando entender como as RP funcionam no capitalismo, comecei a pensar: será que esse é o único jeito? Não há outra forma de as relações públicas atuarem, de atenderem aos interesses populares? A partir daí, então, no contexto da época, comecei a observar as práticas de movimentos sociais que, do meu ponto de vista, faziam relações públicas, sem uma explicitação, ou mesmo sem a presença do profissional. Comecei então a ligar as coisas e a me interessar em entender esse outro processo. Ainda no Mestrado coloquei outras possibilidades para a área, o que chamei de "relações públicas na contramão". Passados alguns anos, desenvolvi o tema da comunicação das classes subalternas e sua relação com a cidadania no Doutorado procurando entendê-la nas suas várias dimensões, no contexto dos movimentos sociais.

Como você vê os desdobramentos deste tema, posteriores aos seus estudos de Mestrado e Doutorado?

Vejo o campo se abrindo. Inicialmente, bastou perceber a existência de grupos populares em várias localidades do País que começavam a pensar e praticar relações públicas comunitárias nos movimentos sociais, além estudos diversos que começaram a surgir. Foi um processo crescente de inclusão de uma nova perspectiva para as relações públicas, até chegar ao momento atual em que as RP no Terceiro Setor já são vistas como algo "normal". As pessoas começaram a acompanhar mais as mudanças da sociedade. Muitas delas também têm o interesse em contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. Enfim, mais atenção foi prestada às questões ligadas à cidadania ou a uma perspectiva mais cidadã da prática profissional das relações públicas.

Em que medida essas abordagens são, ainda, de certa maneira, marginais no meio acadêmico?

Tanto no campo das RP como da comunicação comunitária e popular, essas abordagens sempre constituíram uma perspectiva de trabalho e de pesquisa de menor prestígio, de menor espaço, além de ser vista com certa reserva. Isso em termos gerais, de linha de pesquisa da comunicação e de prática profissional. Relações públicas comunitárias são encaradas como de caráter secundário - não pela importância do tema para a sociedade, mas em termos das preocupações predominantes do campo da Comunicação. Até porque, acho que há um interesse da área de Comunicação em destacar temas que estão mais em evidência. Há uma tendência ao modismo. Na área de Relações Públicas, a tendência maior está no estudo e nas práticas da comunicação das grandes corporações empresariais.

Você procurou direcionar seus trabalhos mais recentes para as questões ligadas às mídias comunitárias. Como tem sido esse direcionamento de suas pesquisas?


Eu me dediquei mais a esse trabalho porque comecei a relacionar muito a teoria com a prática. Ao me inserir bastante nos movimentos sociais e comunitários comecei a perceber uma presença maior dessas manifestações comunicacionais. Acho que foi realmente um reflexo das práticas. Elas despertaram minha curiosidade para entender melhor as novas formas de comunicação que os grupos populares foram incorporando, mas sempre com um esforço para especificar aquelas relacionadas às relações públicas, porque eu sou da área.

Qual é sua pesquisa atual?

Eu procuro sempre não me distanciar da linha de comunicação e cidadania em suas várias perspectivas. Atualmente tento entender, a partir da visão das profissões de comunicação (Relações Públicas, Jornalismo etc.), como elas podem contribuir para o avanço social por meio de uma atuação comprometida com os interesses populares de transformação da sociedade. No momento estou retomando um pouco a dimensão do jornalismo alternativo hoje, no contexto das transformações que vêm ocorrendo na sociedade. É uma tentativa de mapear um pouco as mudanças que estão em processo, com as novas tecnologias de informação e comunicação.

Como você vê essa temática dentro de um GT específico da ABRAPCORP e a evolução das discussões que nele têm ocorrido?

Por um lado, mostra que a Associação está atenta ao que acontece na sociedade e abriu um importante espaço, o que é uma forma de canalizar e organizar a produção científica no setor, que tem crescido muito. Por outro lado, corresponde realmente a uma necessidade. Há uma grande demanda pela discussão sobre a responsabilidade social, sobre as relações públicas no Terceiro Setor e nos movimentos sociais contemporâneos. É fundamental ter um espaço específico de discussão.

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