quarta-feira, 26 de junho de 2013

Toda solidariedade à companheira Maria Silva, vítima do racismo da polícia militar do Rio de Janeiro!


Maria é estudante da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, estava voltando para casa. Em meio a um grupo de pessoas, a polícia militar abordou ela e um outro rapaz negro, levou-os ao chão, apontou armas... depois de gritos e muita truculência, os jovens foram liberados. Abaixo reproduzimos o requerimento do professor Valter Filé, orientador de Maria, que narra o caso. Maria é militante do Coletivo COMjunto de Comunicadores Sociais, toda solidariedade à companheira e a todos os negros e negras vítimas de racismo no Brasil e a todas às vítimas desta polícia racista! 


De Valter Filé
Nova Iguaçu, 25 de junho de 2013

Eu José Valter Pereira (Valter Filé), como professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, venho solicitar que a nossa universidade, na figura de da nossa Magnífica Reitora, à coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares, à Direção do Instituto Multidisciplinar e ao Leafro - Laboratório de Estudos Afrobrasileiros tomem alguma atitude institucional com relação ao terrível ato de racismo cometido pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro contra dois jovens negros, sendo que um desses jovens é a minha orientanda Maria José da Silva (mestranda do PPGEDUC). O Acontecido: Na segunda-feira passada, 24/06, Maria José deixou o Instituto Multidisciplinar, no final da tarde, em direção à Seropédica, onde também reside, próximo ao campus central da UFRRJ. Vamos ao depoimento de Maria:

"Eu nem sei como estou me sentindo agora. Acabo de chegar em casa, depois de mais de duas horas de incertezas. Aconteceu uma manifestação aqui em Seropédica. Não sei que horas começou, mas as pessoas ainda estão nas ruas correndo, andando para as suas casas, paradas, sentindo a truculência da polícia. Tive que descer na Dutra e andar mais de três quilômetros porque tudo está fechado, nenhum carro passa, o ponto final dos ônibus está fechado, quilômetros e quilômetros de engarrafamento. No meio do caminho, bombas, tiros, confusão, um ônibus queimado. Decidi seguir com um grupo para o quilômetro 49, centro da cidade. No meio do caminho, três policiais mandaram eu e mais um menino negro deitar no chão, ficar com a cara voltada para o chão, enquanto o restante do grupo continuou a caminhada. Não adiantava dizer que estava voltando para casa, que não estava participando daquela manifestação, eles vieram com as suas armas e nos empurraram para o chão. Ficamos ali, sem nenhuma explicação e no meio do tiroteio. Nos levantamos. Só sabiam gritar e mandar calar a boca. Várias pessoas passando e nós dois, jovens negros, cercados pelos policiais. Apresentei a carteira de identidade e a carteirinha da Rural. Só depois de muito falar, eles nos liberaram. Polícia fascista, racista e sem escrúpulos. A polícia mostra bem qual é o seu papel e para que está nas ruas: para bater, prender e matar os pobres e os negros."

Creio que institucionalmente e como cidadãos não podemos nos calar diante desses fatos. Este acontecimento parece ser, mas não é algo isolado. A polícia do Estado do Rio de Janeiro comete atrocidades contra populações negras, principalmente, contra a juventude todos os dias. Até quando vamos aceitar e colaborar com a criminalização da pobreza? Até quando vamos colaborar com as ações de uma polícia que vai para as ruas com um alvo certo, pronta para bater, prender e matar? Até quando vamos nos calar diante de uma postura racista e criminalizadora? Se a ação da polícia vem acompanhada com o uso abusivo do poder, portando armas, gerando violência e medo, qual deve ser a nossa postura? Como podemos nos defender e cobrar os nossos direitos, se nem sequer o direito à voz é permitido em situações como essas? A estudante ficou sem poder falar no momento, foi mandada calar a boca por diversas vezes. Para a polícia, eles não tinham direito nem de fazer uma pergunta, foram coagidos e seriam levados para a delegacia se não tivessem insistidos em explicar que estavam voltando para a casa. A postura da Polícia Militar, sentida neste caso, evidencia o corpo que não consegue escapar nas áreas de conflito: o corpo negro. Aquele que na sua pele um incômodo não digerido pela sociedade e que é visto nas posturas racistas, por exemplo, da polícia. Aguardo os encaminhamentos possíveis. Quero acreditar que seremos capazes de dar ao caso uma repercussão que o tire do isolamento e da invisibilidade aquilo que acontece cotidianamente com a população negra. Quero acreditar que a UFRRJ vá se posicionar institucionalmente buscando respostas que nos permitam assumir essa (e outras) violências como sendo feitas à nossa própria instituição, aos cidadãos que creem que a nossa sociedade pode ser de outro jeito.

José Valter Pereira
Matricula 1645609
(Valter Filé)

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